quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Posted by Geovani Aldrighi on/at 01:00



Estabelecer um vínculo entre linguagens parece uma especialidade da produção plástica de Geovani Aldrighi. Artista plástico contemporâneo formado pelo Instituto de Artes e Design da Universidade Federal de Pelotas.
A produção de Geovani é como aquelas sobre as quais muito se pode falar e investigar, isto, na medida em que, o espectador intriga-se com a estranheza de figuras deslocadas, enquadradas a fragmentos, distantes umas das outras sem uma relação imediatamente perceptível.
Híbrida, a produção deste artista desenvolve-se através da relação entre o desenho e a pintura. Linha e mancha convivem harmonicamente e dão origem a uma obra de plasticidade despojada, descontraída, sem os rigores de figurativismos acadêmicos e de natureza verossímil.
Relacionar elementos de linguagens distintas, propor um cruzamento, dar origem a um lugar de convivência entre o gráfico e o pictórico     é algo de natureza complexa. Exige mais do que somente engendrar uma composição aleatória, com linhas e manchas, e desvinculada de um processo conceitual e reflexivo que desvele a essência de cada linguagem.
Geovani Aldrighi é um artista em inicio de trajetória, mas com consciência desta problemática. Sua produção plástica elabora um meio de coexistência entre princípios da linguagem da pintura e do desenho.
As figuras em sua obra apontam como uma referência aos desenhos de histórias em quadrinhos. Ele busca em uma fonte específica, revistas de HQs, elementos característicos que lhe servem como forma de reflexão estética a respeito do modo como se dá a leitura neste meio. Em seguida parte para um processo de apropriação pelo qual, algumas imagens são transpostas de um meio ao outro. Das revistas em quadrinho, de leitura ágil e informação objetiva; à pintura de leitura subjetiva, lenta, não literal.
Mais que relacionar elementos visuais destas duas linguagens no trabalho de Geovani percebemos uma relação entre os modos operantes e de sensibilização destes dois meios de características tão diferentes. Ai reside a qualidade e a sua pesquisa e produção plástica. Fazer arte é mais que simplesmente inventar coisas visualmente agradáveis que sirvam para decorar ambientes bem projetados. Arte não deve ser algo que sirva de adorno ou embelezamento tão somente. Arte constitui-se de muita criatividade, imaginação e, na mesma medida, de muita reflexão. E o domínio sobre estas variáveis requer experiência que só muito trabalho continuo, muita dedicação e estudo especializado podem trazer.
Plasticamente nos trabalhos Geovani figuras e fundo preservam sua individualidade, sem, contudo, serem indiferentes um ao outro. Dividem uma mesma matéria original e monocromática. Relação reforçada quando percebemos que o fundo preenche a parte interna das figuras.  Em alguns casos as figuras são muito diferentes como se não fizessem pare de uma mesma cena.  Resta a o fundo a tarefa de medição: estabelecer um vinculo entre uma figura e outra amenizando o estranhamento. Tornando-se um elemento comum às figuras e a envolvê-las.
A aquosidade deste meio, onde elementos de naturezas distintas coexistem, dota o trabalho de Geovani de uma lentidão característica da pintura. Os escorridos demonstram a lentidão com que o óleo se espalhou sobre o papel.  E as manchas em tonalidades e formatos variáveis impossibilitam que o olhar deslize apressado sobre estes trabalhos e, com o estranhamento das figuras pode gerar certa inquietação, tanto ao olhar, quanto à imaginação e ao pensamento do expectador.


Roger Coutinho
(Texto para a revista “Sou do Sul”. Ed. Fevereiro de 2008)

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